Tal como eu, muitas foram as gerações, desde 1929, que cresceram a ouvir “Come os teus espinafres para ficares forte como o Popeye!”.
Antes de qualquer outra coisa, vamos ver de onde vem esse famoso mito.
Em 1870 o químico alemão Erich van Wolf publicou um estudo que apresentava os espinafres como tendo 10 vezes mais ferro do que os outros vegetais normalmente consumidos. Na verdade, o que aconteceu foi que Van Wolf examinou a quantidade de ferro nos espinafres e ao datilografar o livro enganou-se numa vírgula no número que indicava a quantidade de ferro: 3,5 miligramas de ferro a cada 100 gramas, em vez disso registou 35 miligramas de ferro a cada 100 gramas.
Sustentado na teoria do super-vegetal, em 1929, nasce a mítica personagem Popeye que ganha superpoderes ao comer espinafres.
Apenas em 1937, químicos alemães decidiram reinvestigar o milagroso vegetal e corrigiram o erro. Mas o mito já estava instalado e de forma generalizada um pouco por todo o mundo várias gerações cresceram a comer espinafres para ficarem fortes e saudáveis como o Popeye.
1ª conclusão: o espinafre é um vegetal que contém ferro, mas não mais do que qualquer outra couve ou legume de folha verde.
O que é de facto importante a considerar sobre os espinafres são os seus níveis elevados de oxalato (sal do ácido oxálico).
O oxalato é considerado um anti nutriente, tal como o fitato contido nos cereais e leguminosas. Este anti-nutriente no nosso corpo liga-se ao ferro e ao cálcio, limitando a sua absorção. Portanto os espinafres, apesar de ricos em ferro e cálcio, não disponibilizam estes nutrientes, devido aos seus elevados níveis deste anti nutriente.
Além da inibição de assimilação de ferro e cálcio pelo organismo, o ácido oxálico quando se combina com o cálcio, forma oxalato de cálcio que é insolúvel, podendo provocar pedras nos rins e na bexiga. Outra combinação nociva acontece quando se liga com o ferro, formando oxalato ferroso, um composto altamente tóxico para o fígado.
Assim, devemos moderar ou até mesmo evitar o consumo dos alimentos que sejam ricos em oxalatos como o espinafre, folhas de beterraba, acelga, ruibarbo, o quiabo, o cacau em pó, chá preto e chá mate. O excesso de Vitamina C também se converte em oxalato, pelo que o seu consumo deve ser moderado.
Posto isto podem dizer: então e o meu rico esparregado?
Deixo-vos aqui 2 deliciosas opções (muitas mais haverá, bastando imaginação): Esparregado de Rama de Nabo e Esparregado de Nabiças.
Cá em casa as opiniões dividem-se: o de nabiças é mais cremoso e de sabor mais doce, o de rama de nabo tem mais textura e tem um sabor intenso. Quer dum quer de outro nunca sobra, mas para agradar aos gregos e aos troianos vou alternando entre as duas opções.
Esparregado

Ingredientes
1 molho de nabiças ou rama de nabo (usei rama de 6 nabos)
Sal, alho e azeite qb
Farinha de Araruta (ou outra ao vosso gosto)
Vinagre de arroz (opcional)
Preparação
1. Num tacho com água e sal, ferver a água e escaldar as folhas verdes até ficarem macias (é rápido e não demora mais que 2 minutos). Escorrer para retirar o excesso de água (mas reserve alguma da água para o caso de ser necessário).


2. Triturar bem (juntar um pouco da água se necessário, mas atenção para não deixar demasiado líquido).

3. Juntar 2 colheres de sopa de farinha de araruta (pode usar outra a seu gosto, como por exemplo a farinha de arroz).

4. Num tacho aquecer o azeite com os alhos, juntar o esparregado e deixar cozinhar por 2 minutos (até cozer a farinha).

5. Ajuste o tempero de sal e pode juntar um pouco de vinagre de arroz a seu gosto. Dá um toque diferente e muito saboroso.

Bom apetite!