Existem 3 formas de disponibilizar serviços de saúde a quem deles necessita. A primeira forma é como Tratamento, a segunda como Terapia e a terceira como Processo Terapêutico.

Antes de detalharmos as formas de disponibilizar serviços de saúde, temos de falar dos níveis de manifestação da doença e qual o processo para se chegar à cura.

Consideremos a analogia do ser humano a uma cebola, sendo constituído por camadas.

Começamos com a primeira camada, o anel onde os sintomas iniciais de uma doença ou de um distúrbio de saúde se manifestam. Esta é uma camada relativamente fina e bastante superficial e que está intimamente conectada com o anel seguinte, o físico-emocional ilusório. Quando existem dores ou desconfortos físicos de alguma ordem, estamos perante a manifestação da doença a um nível físico ilusório. Por outro lado, quando existem estados emocionais envolvidos, como por exemplo, uma depressão ou outro estado emocional bloqueador de uma vida normal, estamos perante o nível emocional ilusório. São considerados ilusórios porque estão relacionados com as percepções dos pacientes e têm muito pouco a ver com a situação em si, mas com o modo como os sintomas importantes se escondem por detrás destes. Nestes dois níveis inseparáveis estamos apenas a lidar com aquilo que é visível da manifestação do problema de saúde. As manifestações físicas ou mesmo emocionais nestes patamares não são de facto reais, é percepcionado pela pessoa como tal, mas o distúrbio existe noutras camadas que a pessoa não consegue de forma consciente ter acesso, ou não quer ter acesso. Para que a cura possa iniciar-se temos de penetrar nas camadas seguintes. Enquanto o terapeuta exercer a sua actividade no sentido do alívio de sintomas ou o paciente quiser manter-se nestas duas zonas, não será possível dar ou ganhar consciência e a cura não se iniciará. A actuação neste caso passa normalmente pelo tentar aliviar os sintomas, entrando no ciclo de manifestação de sintomas e ausência de sintomas. Estes ciclos têm duração aleatória dependendo de cada situação. Frequentemente podemos ter a ilusão de que o ciclo parou e o método terapêutico usado foi bem-sucedido, no entanto, e infelizmente, se não actuarmos de forma diferente, apenas temos de esperar e ter paciência, para o sintoma manifestar-se mais profundamente.

Quando se consegue ultrapassar estes primeiros níveis entra-se então no caminho da cura e temos acesso à primeira camada real, o nível físico. A partir do momento que entramos neste patamar os sintomas físicos começam a manifestar-se de forma cada vez mais ténue ou mesmo a desaparecerem e rapidamente entramos no nível seguinte, o emocional real. Neste nível englobam-se todas as emoções com as quais não aprendemos ainda a lidar. Grande parte delas encontram-se “congeladas” no tempo em que estivemos na barriga da nossa mãe e depois na nossa infância. Estes tempos englobam aquilo que está circunscrito ao universo da criança interior. Nesta fase devemos ter consciência de tudo aquilo que nos bloqueia, os medos, as tristezas, as vergonhas, as faltas de confiança, as dificuldades de liderança, os relacionamentos, sejam com os pais, com os filhos ou com o companheiro ou companheira, ou outro tipo de relacionamentos… Significa em termos práticos que todas as questões da vida actual que não estão claras têm de ser clarificadas e esclarecidas. Ao entrarmos cada vez mais profundamente no emocional real teremos progressivamente acesso à Criança Interior e a possibilidade de resolvermos o que a bloqueia. É normal neste nível existirem manifestações físicas ténues de curta duração que estão relacionadas com algum bloqueio, ou com algo a aprender, ou mesmo com o crescimento e o ganhar de maturidade emocional, levando progressivamente ao elevar de consciência. Devo esclarecer que o deslocar nos vários níveis não será propriamente uma recta em direcção ao centro, mas sim um ondular em espiral, onde as várias camadas são envolvidas nas suas conexões, permitindo assim a resolução físico-emocional-espiritual ao ritmo de cada um.

Ao ganharmos consciência das nossas emoções e aprendermos a lidar com as mesmas, damos transparência ao emocional real e aproximamo-nos ainda mais do anel da Criança Interior permitindo o acesso ao estágio da Criança Interior Resolvida que nos guia a entrar no patamar seguinte, conectarmo-nos com quem somos e de certa forma entrarmos no anel da Espiritualidade. Nesta fase as dúvidas, os receios, os medos, as culpas, os ressentimentos, os julgamentos ficaram para trás. O nível de entendimento sobre a realidade amplifica-se e a cura é o único objectivo. Toda a vida se organiza de modo a manter o nível de saúde actual bem como ainda a melhorá-lo, sem a necessidade de extremismos ou estarmos obcecados pelo assunto. É algo de natural e as nossas preferências manifestam-se sem qualquer conflito interno, transparecendo exteriormente a paz que habita interiormente.

Retornando agora às formas de tratamento temos de ter em conta tudo o que estivemos a falar. Assim, se pretendo apenas aliviar os sintomas devo procurar terapias e terapeutas que actuam nesse nível, ou seja, no nível do tratamento singular. Se de outro modo procuro chegar a modos mais robustos de vida e poder pensar em entrar no nível emocional, então o tipo de terapias ou terapeutas a procurar terão de ser obrigatoriamente outros e o nível terapia poderá ser o mais adequado. Mas se pretendo acima de tudo chegar a níveis mais elevados de saúde então tenho de estar disponível para ser guiado num processo terapêutico.

Devemos esclarecer que será apenas uma escolha, não significa que uma opção é a certa e as outras erradas. Apenas devemos estar conscientes do que pretendemos e fazer a escolha adequada. Tanto o profissional de saúde como o paciente são responsáveis pelas suas escolhas e deverão conscientemente decidir o seu posicionamento. Implica para o terapeuta exercer a sua actividade de forma congruente com essa escolha e para o paciente viver a sua vida em sintonia com a sua escolha. Se é claro que quando recorro a uma massagem de relaxamento não espero mais do que o alívio temporário do stress que estou a sentir, já não é tão claro que esteja a receber exactamente o mesmo tipo de serviço quando por mostrar sinais de ansiedade me receitam um ansiolítico, com a agravante de que os efeitos secundários do ansiolítico poderão ser no longo prazo demência.

Relativamente ao que é esperado de cada uma destas formas de actuar, podemos esclarecer o seguinte:

Na forma de tratamento, é verificado o sintoma e de acordo com ele são aplicados tratamentos que têm como objectivo o alívio do mesmo. Neste âmbito podemos nomear, quase todos os tratamentos que envolvam medicamentos químicos e que servem apenas para alívio do sintoma e que permitem conviver com a doença ou problema de saúde de forma confortável. O profissional de saúde posiciona-se neste caso de modo a analisar a forma mais adequada a dessensibilizar o sintoma ou em manter o sintoma afastado, não tem como objectivo a resolução do problema de saúde, mas única e exclusivamente evitar que o sintoma apareça ou quando ele reaparece aliviá-lo. Estes processos são superficiais e não permitem sair do nível físico e emocional ilusório, sendo que a maior parte das vezes não ultrapassam sequer o anel da manifestação de sintomas.

Na forma de terapia, o alívio do sintoma não é o objectivo principal. O terapeuta procura ter o quadro completo antes de iniciar e o seu objectivo principal é actuar na causa, fazendo um seguimento temporal do paciente adequado à situação. A aplicação dos tratamentos terapêuticos termina quando o objectivo inicial do paciente é atingido, e/ou dentro de um espaço temporal adequado à situação não existe o retornar de quaisquer sintomas, entrando a partir desse momento na fase da manutenção do nível de saúde atingido. O profissional pode aplicar uma ou mais técnicas terapêuticas direccionadas para a pessoa e nunca como objectivo o alívio de sintomas. Apesar dos tratamentos não serem específicos para os sintomas, os sintomas iniciais irão naturalmente desaparecer. Na aplicação desta forma de disponibilizar serviços de saúde pode-se chegar ao limite do anel emocional real, mas dificilmente o conseguiremos ultrapassar, e quando esse patamar é atingido deverá ser feito um seguimento mais espaçado, tendo como objectivo a manutenção do nível de saúde atingido. Neste método dificilmente se consegue atingir a Criança Interior, não permitindo assim entrar no nível Espiritual. Neste caso, o paciente nunca chega a ganhar autonomia e dependerá sempre do terapeuta para lhe trazer saúde.

Quando falamos de um processo terapêutico o objectivo principal será a cura e desse modo o processo é guiado no sentido de ultrapassar os vários níveis até chegar ao nível espiritual, em que o paciente ganha autonomia e já não necessita de cuidados regulares relacionados com a saúde, entende exactamente o que lhe traz e mantém a saúde, tal como, a alimentação, o modo como respira, o que pensa e o modo como se expressa, bem como, o seu estilo de vida em geral. Durante a primeira parte do processo o objectivo é ultrapassar o anel físico e emocional ilusório, para entrar no emocional real desbloqueando a Criança Interior, atingindo então o nível Espiritual. Os processos terapêuticos usados dão por si só consciência, ou permitem ao terapeuta dar consciência e guiar o paciente na implementação de mudanças de acordo com a consciência adquirida. Nesta forma de abordagem o profissional de saúde irá numa primeira fase regularizar tudo aquilo que permite ao paciente ganhar saúde e sair do ciclo do alívio de sintomas para entrar no caminho da cura. Deve salientar-se que o paciente pode sempre parar no nível que desejar e retornar mais tarde, ou então se descobrir que pretende ser tratado através de outras formas, tal como, a forma Tratamento ou a forma Terapia, pode sempre em qualquer altura fazê-lo.

Espero que neste momento esteja claro o que se pode esperar quando se recorre a um profissional de saúde. Devemos ter consciência que não existem certos e errados nestas escolhas, tanto da parte do doente como da parte do profissional de saúde, apenas a forma como este ultimo decide disponibilizar os seus serviços, cabendo ao paciente a escolha do tipo de abordagem que pretende para o seu caso. Ambos são responsáveis e devem estar conscientes das escolhas que fazem e não criarem expectativas que nunca irão acontecer. Relembro que não são as situações que são negativas, nem as pessoas que nos querem fazer mal, os julgamentos dessas situações são irrelevantes, o importante é percebermos que, e relembro mais uma vez os desequilíbrios, sejam de que espécie for, só existem quando não somos honestos connosco e com os outros. Quando a verdade é instalada a justiça torna-se obsoleta e sem qualquer utilidade.