Se um dia chegasse a casa e os móveis e todo o recheio da casa estivesse fora do seu lugar, não estava nada desarrumado, apenas estavam noutros sítios? Nesse dia poderíamos achar estranho o que estava a acontecer e até poderíamos pensar que não queríamos nada daquilo nas nossas vidas. Afinal a nossa casa é a nossa casa, é o sítio onde ansiamos chegar para descansar e sentirmo-nos confortáveis. Não queremos mudanças deste tipo. Mas no dia seguinte, apesar de não querermos nada daquilo, a nossa casa mostrava vida própria e arrumava-se à sua maneira. O mais estranho era que, apesar de as coisas não estarem nos sítios habituais, você sabia exactamente onde elas estavam arrumadas, sem qualquer esforço encontrava tudo aquilo que precisava. Os dias passaram e a vossa casa mantinha aquele comportamento estranho, de manhã estava arrumada de forma diferente da noite e diferente do dia anterior. Estas mudanças passaram a ser um hábito e, de uma certa forma estranha, aquela era um modo novo de conforto muito interessante. A mudança passou a ser uma coisa agradável, divertida e com muitas aprendizagens pelo meio.

Se imaginarmos isto a acontecer na realidade, que consequências poderia ter na nossa vida e na nossa forma de estar? Estaremos dispostos a permitir vida na nossa “vida” ou preferimos que ela mantenha aquele ar confortável e de estagnação?

No outro dia estava a tomar café e na mesa atrás de mim, uma mulher contava a outra uma situação entre ela e o seu filho adolescente. Ela explicava que no dia anterior estava na cozinha a retirar as bagas das romãs de forma prazerosa e até bastante rápida, quando o seu filho vem todo convencido e lhe diz “eu sei uma forma muito rápida de fazer isso”.

– Sim? E como é? – replicou a mulher.

– Fazes assim e assim e mais assim e depois colocas assim e já está. Eu vi isto no outro dia no Youtube. – Instruía o filho a mãe.

– Não percebi nada. Podes fazer para eu ver e aprender como se faz? – retornou a mulher.

– Não percebeste? Está bem! Eu explico outra vez. – Com uma voz um pouco irritada por a mãe não ter entendido uma explicação tão simples.

– Não, não! Faz tu para eu ver. – insistiu a mãe, interessada em aprender uma forma ainda mais rápida de fazer aquela tarefa morosa e sensível.

E a mãe explicava à amiga como o filho, muito atrapalhado, lá foi tentar colocar na prática aquilo que ele tinha visto no Youtube. Escusado será dizer que a coisa não correu assim tão fácil e que não foi um desastre, mas foi perto disso. Aquela mãe estava mesmo divertida a contar a história de como os filhos pensam que sabem tudo porque viram um vídeo, mas na verdade sabem muito pouco.

Actualmente parece que todos sabem tudo e a frase “eu sei”, até começa a ser irritante. Alguém lê ou vê algo e confunde conhecimento com sabedoria. A sabedoria só se atinge quando se coloca o conhecimento na prática.

Mas o que na realidade está a acontecer?

Pensamos que sabemos algo e não precisamos de fazer mais nada. A informação está toda disponível e não precisamos de nos mexer para ter acesso à mesma. Até os livros de auto-ajuda nos levam na mesma direcção. Antigamente, tínhamos de viver a vida e era essa nossa vivência que nos trazia alguma sabedoria, que a transmitíamos aos mais novos na fase final da nossa vida. Atualmente, esse conhecimento está nos livros e julgamos que já sabemos tudo simplesmente porque os lemos.

Quando se fala em sabedoria de vida as pessoas reclamam – “sim eu sei isso tudo, eu sei a teoria, mas como é que eu coloco isso na prática?”

O primeiro passo é de uma vez por todas acabar com a confusão entre saber e conhecer. Significa que já viu, ou já ouviu falar, mas não faz a mínima ideia de como funciona na prática. Evitam-se, assim, muitas confusões, equívocos e maus entendimentos para o próprio. Não é uma questão de semântica, é uma questão de perspectiva e de propensão para a acção.

O segundo passo é decidir viver, pois só nessa situação é que podemos passar da teoria que conhecemos, para a aplicação prática e começarmos, de facto, a saber.

Quando estamos disponíveis para crescer e aumentar o nível de consciência, temos de estar preparados para que ao chegar a casa tudo esteja noutro local e isso até seja normal para nós. Até chegarmos ao ponto de um dia a casa estar totalmente vazia e podermos colocar o que quisermos, lá dentro. Até pode ser que vazia, mas com o essencial, seja a solução. Afinal, quando vivemos de acordo com aquilo que precisamos, aprendemos que, na realidade, necessitamos mesmo de muito pouco para ser feliz.

E é exactamente disso que se trata sermos felizes e para tal temos de estar conscientes, permitir que a vida entre em equilíbrio dinâmico e começar a perceber a diferença entre conhecer algo e a verdadeira sabedoria. Porque a felicidade só se encontra na prática e não esperem encontrá-la no topo da montanha. Se estiverem atentos e, acima de tudo conscientes, é no caminho para chegar ao topo da montanha que podem encontrar o que desejam. O topo da montanha pode trazer a glória e a satisfação, mas é no caminho, que está o crescimento e a felicidade de viver. É aí que vão adquirir sabedoria. Chegar ao topo da montanha, será apenas e só, uma consequência de fazer o caminho felizes e satisfeitos, sabendo que teremos tudo aquilo que precisamos para transformar conhecimento em sabedoria.