“you are well educated, but you have no common sense”

Substantivo masculino do latim sensus, que significa textualmente: sentido, órgão do sentido, faculdade de sentir, sensação, pensamento.

Se procurarmos na internet a definição de Bom Senso veremos que é definido como  “um conceito usado na argumentação que está estritamente ligado às noções de sabedoria e de razoabilidade, e que define a capacidade média que uma pessoa possui, ou deveria possuir, de adequar regras e costumes a determinadas realidades considerando as consequências, e, assim, poder fazer bons julgamentos e escolhas.”

É ainda distinguido Bom Senso de Senso Comum, sendo o primeiro um “equilíbrio nas decisões ou nos julgamentos em cada situação que se apresenta” e o segundo apenas “um conjunto de opiniões ou ideias que são geralmente aceites numa época e num local determinados”. Daqui se depreende que Bom Senso é diferente daquilo que se denomina como a normalidade, pois aquilo que se aproxima da norma são os conceitos aceites numa determinada época e local determinados, ou seja, Senso Comum. O ideal é que o Senso Comum se aproxime o mais possível do Bom Senso, no entanto a normalidade pode afastar-se tanto do Bom Senso que pode tornar-se doentia. Ao longo dos tempos, o ser humano tem vindo a afastar-se cada vez mais do Bom Senso, tornando a realidade cheia de regras e processos uns mais complexos que outros, tanto legais como de sociabilização, tornando o Senso Comum e a dita normalidade em algo disfuncional. Actualmente, quase todas as pessoas veem o mundo como um palco onde as injustiças e as dificuldades em fazer escolhas adequadas prevalecem, ou seja, a normalidade afastou-se do Bom Senso.

É fácil encontrar uma definição de Bom Senso, mas como se aplica essa noção que Aristóteles tão bem definiu como “uma capacidade virtuosa de achar o meio termo e distinguir a acção correta”, ou seja, a capacidade de conseguir encontrar o ponto ideal em que todos têm consciência, todos têm vontade e disponibilidade para mudar, todos ganham, todos são respeitados e todos se sentem satisfeitos. No mundo actual, isto parece uma utopia, mas na realidade não o é se todos começarmos a aplicar Bom Senso às nossas vidas.

A primeira vez que tenho memória de usar o conceito de Bom Senso, foi na faculdade, numa aula de Ciência Política em que o professor perguntava a nossa opinião sobre a razão por detrás de todos os conflitos no mundo. Perante o silêncio da sala, eu respondi impulsivamente “Falta de Bom Senso, Professor!”. Apesar de desconhecer os contornos filosóficos por detrás da minha resposta intuitiva, nada poderia estar mais certo do que aquela resposta. A falta de capacidade de avaliar a decisão correcta a tomar de modo a que todas as partes envolvidas ganhem, é a fonte de todos os conflitos no mundo, sejam as guerras mais mortíferas, ou o mero conflito interno que nos atormenta, para alguns apenas em dados momentos, para outros de forma mais ou menos constante. E reparem que propositadamente usei a expressão “decisão correcta”, no entanto não confundam correcta com “razão” ou “verdade”, uma decisão correcta é encontrada quando aquilo que está a acontecer é ecológico para todas as partes e não existem perdedores, apenas um consenso que permita que todas as partes sejam ganhadoras. Vivemos numa sociedade que nos formata para ganhar e vamos sobrevivendo entre o êxtase de ganhar e a frustração de perder continuamente. Nunca ninguém nos ensinou que existem outras opções, onde todos ganham e o respeito mútuo prevalece.

Somos também formatados em criança para a partilha, para não sermos egoístas e vivermos as nossas vidas de modo a que todos os outros são uma prioridade, colocando-nos consecutivamente em segundo, terceiro e, muitas vezes, último plano. De uma forma contraditória e até caricata tomar decisões sem Bom Senso é o estágio de egoísmo máximo que podemos atingir, pois quando não consideramos todas as partes envolvidas quando tomamos uma decisão, decidindo apenas de acordo com as nossas motivações pessoais, ou de acordo com a norma imposta pela sociedade, estamos a dar espaço a todo o egoísmo reprimido em todas as vezes em que não fomos uma prioridade para nós mesmos, e aí, com todo o vigor, decidimos sem ponderar se as nossas acções são ou não são ecológicas para todas as partes envolvidas, incluindo nós mesmos.

Existe um método muito simples que todos podemos usar para aplicar o Bom Senso nas nossas vidas e mais uma vez não confundam simplicidade com facilidade, e tal como qualquer outra coisa é apenas uma questão de prática e de aperfeiçoamento. Aquilo que nos permite adquirir Bom Senso para as nossas decisões é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e sentir a nossa decisão do outro lado, de acordo com a nossa consciência. Ao contrário do que normalmente é entendido por se colocar no lugar do outro, não vão ser o outro, vão sim ser vocês, mas se estivessem na situação do outro que vai receber as vossas palavras ou acções. Como é que poderiam fazer para que aquilo que for dito ou feito, seja de um lado, seja do outro, trouxesse consciência, vontade de mudar, ambos ficassem satisfeitos e sentissem que todos tinham ganho de forma igual.

Aqui ficam as linhas gerais deste exercício tão simples:

Peguem numa situação/decisão das vossas vidas que envolvam terceiros.

Agora imaginem que estão a dizer a essa pessoa ou tomar essa decisão que querem tomar, e verifiquem a ecologia desse ponto de vista, estão satisfeitos e é isso que querem? Se sim óptimo, passem à fase seguinte, reajustem até estar bem para vocês.

De seguida fechem os olhos e sintam as vossas palavras ou a vossa decisão do outro lado. O que sentem no lugar do outro? Estão satisfeitos com a decisão ou as palavras recebidas? Se sim, então parabéns, essa é a decisão correcta!

Se não, então terão de responder a uma questão: que poderiam dizer ou fazer diferente, de modo a que se estivessem do outro lado, a vossa decisão fosse adequada para as duas partes? Ou seja, ambos ficam conscientes da realidade, ambos sentem vontade de mudar, ambos ficam satisfeitos e ambos ganham equatitativamente.

É verdade, o lugar mais inóspito do mundo é o lugar do outro e é esse mesmo lugar que vos convido a visitar para terem uma vida mais tranquila e plena. Pode ser difícil, mas nada que a prática continuada e persistente não resolva.

Fontes Citadas: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e Wikipédia

Por: Susana Pais