– Cada vez ando mais confuso, tenso, ansioso… Não me sinto nada bem!

– Isso é óptimo sabes? Significa que estás vivo e tens percepção da tua realidade.

– Mestre não goze!

– Não estou a gozar. Nem todas as pessoas percepcionam a sua realidade, acham sempre que está tudo bem, não exprimem o que sentem e reprimem. Sentir e exprimir o que sentimos, é o primeiro passo para alterar a nossa realidade.

– Estou mais uma vez preso no tempo… Quero que tudo seja rápido e nada corre como eu penso que deve correr.

– Quando eras criança chegaste a brincar na praia e a fazer castelos de areia?

– Sim, claro! Mas o que é que isso tem a ver com o que eu estou a falar?

– Tem tudo a ver. Imagina que és uma criança e estás na praia com os teus pais. Decides construir um castelo de areia para que as ondas o destruam. Esse é o teu plano, o teu objectivo.

Olhas para o mar e planeias o local ideal para que isso aconteça. Tens em conta o tempo para construir o castelo e a subida da maré. Não sabes muito bem como, mas ao veres a areia molhada e a areia seca, tens a opinião que o mar vai chegar até onde existe areia molhada. Constróis o teu castelo e inicias a tua espera.

São perto das 11horas e os teus pais decidem ir-se embora para que tu não apanhes com o pico do sol. Não aceitas e começas a chorar que queres ficar. Depois de várias irritações de ambas as partes, os teus pais levam a melhor, e tu não vês o mar chegar ao castelo. Apesar do teu esforço os teus pais ganharam.

Uma semana depois voltas à praia e prossegues com o teu objectivo. Desta vez, colocas o castelo mais perto do mar. Nesse dia os teus pais ajudam-te a construí-lo. De repente olhas para o mar e este em vez de se deslocar na direcção do teu castelo, afasta-se. O desespero instala-se. Começas a empurrar a água, mas nada a faz inverter o sentido de afastar-se cada vez mais do teu castelo. Para piorar a situação, os teus pais começam a arrumar as coisas para irem embora. Mais uma birra e os teus pais, mais uma vez, levam a melhor e tu não vês o mar chegar ao teu castelo.

   Continuas a ir à praia com os teus pais e a fazer castelos para que as ondas o destruam mas, por uma razão ou por outra, acontece sempre o mesmo. Até que um dia foste bem-sucedido. Não sabes porquê. Já tinhas feito tudo aquilo antes e sem sucesso, mas naquele dia acontece. O mar com as suas ondas destrói o teu castelo. Esse acontecimento deixou-te no coração uma alegria enorme e recordarás para sempre esse momento, o prazer de ser bem-sucedido! Nos dias seguintes voltaste a construir o castelo, mas tal como das outras vezes, o mar não estava de acordo contigo. Ele tinha planos diferentes dos teus. O Verão chega ao fim e apenas por uma vez conseguiste o que pretendias. Estás desiludido.

– Não percebi. O que queres dizer com tudo isso?

– Posso concluir várias coisas e teorizar sobre outras. Pensa nesta situação da forma que for mais adequada para ti. Pensa nos seus significados e em como isso poderia mudar a forma como planeias a tua vida, em como enfrentas as adversidades, enfim, em como a vives. Não precisas de espernear e fazer birras ou mesmo entrares em ciclos depressivos. Aceita que o plano não foi o melhor.
Aprende, planeia e decide com sucesso.

   Questiona, assertiva e objectivamente, sem medo das respostas.

Procura soluções.

   Substitui os problemas por soluções.

   Elimina mesmo a palavra problema.

   Faz com que a tua vida seja consequente, em vez de ser obra do acaso. Mas fá-lo com congruência.

   Vive quem tu és e saboreia a vida ao veres o mar destruir, contínua e diariamente, todos os castelos de areia que construíste e aqueles que construíram para ti.

   Planeia com sucesso a sua destruição, percebe como as marés funcionam.

Espera, quando tens de esperar.

   Age, quando tens de agir.

   Decide no momento certo.

   E acima de tudo aprende, aprende continuamente.