“A cura de Platão para as dores de cabeça envolvia:
Uma certa folha, mas havia um encanto a acompanhar o remédio; e se alguém proferisse o encanto no momento da sua aplicação, o remédio funcionava; mas sem o encanto a folha não tinha efeito.”
Se Platão vivesse na era moderna chama-se ao efeito do encanto proferido com o remédio de: Efeito Placebo.
Muitas pessoas quando se dirigem a nós e querem saber como a Medicina Holística funciona perguntam: isso funciona mesmo ou é só efeito Placebo? A pergunta vem sempre com uma conotação de falhanço e de: só funciona porque as pessoas acreditam, ou porque as pessoas imaginam que funciona.
Esta conotação que está incutida na grande maioria das pessoas existe porque durante muitos anos em Medicina o efeito placebo foi sempre considerado um sinal de fracasso.
Em Medicina Holística temos uma visão alargada de tudo, e o Efeito Placebo não é exceção e por isso iremos apresentar a nossa visão desse conceito médico cada vez mais discutido e discutível que é o Placebo.
A raiz etimológica da palavra placebo é latina e corresponde ao futuro do indicativo do verbo Placere, que significa “agradar”, que corresponde literalmente a “agradarei”. Em Medicina começou a usar-se para denominar uma substância que o médico prescrevia para “agradar ao doente”, sem que tivesse benefício terapêutico.
Um placebo pode ser um comprimido de açúcar, uma injecção de água ou soro fisiológico ou qualquer outro procedimento que não tenha nenhum elemento químico integrado, ou seja sem qualquer princípio activo.
Os placebos são frequentemente utilizados em ensaios clínicos para ajudar a compreender o efeito real de um novo tratamento – tanto benefícios positivos como também possíveis efeitos secundários.
Num ensaio clínico, existem pelo menos dois grupos, as pessoas de um grupo recebem o fármaco real, enquanto os outros recebem o placebo. Os participantes não sabem se recebem o fármaco real ou o placebo. Assim, no final do teste, se os resultados forem iguais para os dois grupos, é sinal de que o novo medicamento não faz qualquer efeito.
No entanto, de alguma forma ainda por esclarecer pela ciência vigente, os placebos mesmo não contendo nenhuma substância activa ainda assim produzem um efeito fisiológico positivo, melhorando os sintomas, dando assim origem ao termo Efeito Placebo, que é o nome técnico para designar o poder de cura do corpo sem uma óbvia intervenção física.
O entendimento sobre como o efeito placebo efectivamente funciona não está estabelecido e apenas nos últimos 30 anos é que os efeitos do tratamento placebo começaram a ser estudados sistematicamente.
O que se sabe é que o efeito placebo parece estar apenas e só dependente da percepção do paciente.
Eis aqui alguns dos factores conhecidos que influenciam a percepção do paciente e por consequência a acção do Placebo:
- Quando o médico diz “com isto vai sentir-se muito melhor” tem um efeito maior do que quando diz “existe uma possibilidade de que isto possa ajudar”
- O efeito é maior quando o paciente tem certeza de que ele está a receber um fármaco ativo, do que quando ele sabe que existe a possibilidade de estar a receber um placebo
- Um paciente com uma expectatica negativa/pessimista, tende a apresentar uma reação nocebo (quando o efeito do falso remédio provoca uma piora nos sintomas). Quando a expectativa é positiva e optimista, gera uma reacção placebo.
- Um comprimido de placebo colorido e com um logotipo em relevo funciona melhor que um comprimido de placebo liso e todo branco.
- Um comprimido de placebo que vem embalado funciona melhor que um comprimido de placebo que não vem com embalagem.
- Um comprido de placebo que que vem numa caixa com visual bonito e apresenta um nome típico de remédio funciona melhor que um comprimido que vem numa caixa toda em branco.
- Tomar dois comprimidos de placebo de uma só vez funciona melhor do que tomar um comprimido de placebo.
- Um comprimido de placebo grande funciona melhor que um comprimido pequeno de placebo.
- Dizer ao paciente que o comprimido de placebo custa 50 euros faz com que ele funcione melhor que um comprimido que supostamente custa 5 euros.
- Dizer que o comprimido de placebo é um novo e revolucionário tratamento faz com que ele funcione melhor que um comprido que supostamente já existe no mercado há vários anos.
- Um comprimido de placebo é menos eficaz que uma pílula de placebo, que por sua vez é inferior a uma injeção de placebo.
- Quanto mais rebuscado for o placebo, mais poderoso ele é.
- Pílulas de placebo azuis funcionam melhor como calmantes, pílulas vermelhas tratam melhor a dor e pílulas amarelas são mais eficazes como antidepressivos.
Existe um mito que atribui ao efeito placebo apenas efeitos psicológicos, no entanto os estudos têm demonstrado que o uso de placebo tem um impacto positivo na fisiologia.
Efeitos do Placebo em sintomas físicos:
- Quadro clinico Média (%)
- Dor de cabeça 61,9
- Distúrbios Gastrointestinais 58
- Dores reumáticas 49
- Gripe 45
- Enxaqueca 32,3
- Dores em geral 28,2
- Cólicas menstruais 24
- Alcoolismo 22
- Hipertensão arterial 17
Adaptado de Meyer-kindi – 1989/ in Ver. Bras. Med. Vol 54 nº4 – 1997
O QUE É QUE FAZ O PLACEBO FUNCIONAR
Confiança no tratamento
Os mecanismos de funcionamento do placebo não são totalmente conhecidos, mas já se sabe que as expectativas do paciente sobre a eficácia do tratamento têm um papel de destaque no processo. A relação com o cuidador/médico também tem impacto e quanto maior a relação de confiança e empatia, melhores são os resultados.
Mente aberta e optimismo
Apesar de ainda serem poucas as pesquisas neste sentido, os especialsitas defendem que as pessoas com uma mente aberta, uma atitude positiva e optimista respondem melhor ao tratamento placebo que as pessoas mais fechadas, cépticas e pessimistas.
Forma VS Conteúdo
O preço e o tamanho revelou ser importante para os resultados uma vez que os remédios caros ou tratamentos mais complexos tendem a ter um efeito maior quando comparados com outros mais baratos. O tamanho, a cor e a dosagem também são factores que influenciam os resultados. Isto mostra que a forma tem um papel de destaque e se sobrepõe ao conteúdo na administração de um tratamento.
A TESED E O EFEITO PLACEBO
Para explicar a nossa perspectiva do Placebo vamos contar dois casos reais.
A Experiência de Hawthorne
No início do século XX, as empresas estavam a utilizar abordagens científicas para melhorar a produtividade dos trabalhadores e começaram uma série de investigações para saber o que é que impactava a produtividade dos trabalhadores.
Em 1927, os investigadores estavam a tentar determinar a quantidade ideal de iluminação para a montagem de componentes electrónicos na fábrica Hawthorne da Western Electric.
1º Mediram a produtividade de uma secção especifica
2º A seguir melhoraram as condições de luz, e a produtividade aumentou
3º A seguir melhoraram ainda mais as condições de luz e a produtividade aumentou ainda mais
4º Voltaram às condições de luz inicial e a produtividade continuou a aumentar
Confusos com o resultado fizeram ainda outra experiência
5º diminuíram as condições de luz iniciais e a produtividade continuou a aumentar
6º levaram a experiência ao limite de reduzir as condições de luz de tal forma que poderia ser até difícil de executar as tarefas, mas o resultado foi que a produtividade continuou a aumentar
Perplexos com os resultados, os investigadores passaram à fase de entrevistar os trabalhadores e todos diziam algo similar: por saberem que estavam a participar numa experiência queriam dar o melhor deles para que a experiência corresse bem. E independentemente das mudanças feitas eles mantinham-se a dar o melhor deles.
Este é o 1º nível do Efeito Placebo na TESED: DARMOS O MELHOR DE NÓS.
Quando nós damos o melhor de nós obtemos o melhor resultado.
A Doença Rara
Um paciente com uma doença muito rara e que já tinha passado por vários médicos sem resultados e com um quadro clínico cada vez pior, encontrou um médico que depois de lhe fazer o diagnóstico, lhe disse: “Eu já sei o qual é o seu problema, você tem uma doença rara e o comprimido no mercado que actua nessa doença é este”.
A partir daí o paciente começou a tomar o medicamento e melhorou muito e os sintomas todos desapareceram.
Contudo, como a doença dele era uma doença rara a farmacêutica resolveu descontinuar a medicação pois o volume de venda não justificava os custos de produção.
O médico tentou encontrar alternativas noutros medicamentos, mas nada tinha efeito.
O paciente foi piorando cada vez mais até voltar ao estado inicial.
O médico entrou em contato com a farmacêutica e pediu para que produzissem especialmente para ele uma quantidade que fosse suficiente para garantir a vida do paciente. O pedido foi recusado, mas o médico fez um novo pedido à farmacêutica se poderiam produzir um comprimido de lactose com mesma forma do medicamento e na mesma embalagem do medicamento original.
O médico comunicou ao paciente que a farmacêutica tinha aceitado produzir o medicamento especialmente para ele.
O paciente voltou a tomar o comprimido, agora sem nenhum princípio activo lá dentro, e mais uma vez o paciente não só melhorou como os sintomas voltaram a desaparecer.
E com isto temos o 2º nível do Placebo na perscpectiva da Tesed: Quando acreditamos que aquilo que estamos a fazer é o mais adequado para nós e que vai ter efeito de facto naquilo que está a ser feito, potenciamos o resultado.
O 3º nível que conseguimos deduzir destas duas histórias é: ENVOLVER-NOS COM A EXPERIÊNCIA. Significa que não devemos fazer as coisas mecanicamente, mas sentir-nos conectados com o que estamos a fazer e sentir o que estamos a fazer, envolvendo-nos no processo, o chamado “Vestir a Camisola”. Sem essa conexão, todas as experiências são vazias e sem sentido.
Assim, ter o efeito Placebo a funcionar significa:
- Dar o melhor de mim
- Acreditar e confiar no que estou a fazer
- Envolver-me com o que estou a fazer
Quando estes 3 pontos estão juntos eu vou ter o melhor resultado possível. Por isso na Tesed, usamos e abusamos do Placebo pois isso significa estimular no paciente a capacidade de se conectar consigo próprio e ganhar poder sobre o seu corpo, sobre a sua saúde e sobre a sua vida. E isso é a maior força que o Ser Humano tem.
#cursodemedicinaholistica