Joana saiu da consulta de ginecologia e nunca se tinha sentido tão desorientada na sua vida como agora. Depois dos dias a seguir ao teste de gravidez, que comprou na farmácia, ter dado positivo, ainda tinha uma ligeira esperança de que houvesse um engano e a médica lhe desse a boa noticia de que não estava grávida. A vida estava a desmoronar-se e ela não conseguia ter qualquer controlo no que estava a acontecer. Logo agora que tinha terminado o seu relacionamento é que engravidava. Nesta fase da sua vida não estava disponível para ser mãe. Tinha acabado o curso superior de advocacia há dois anos e tentava estabilizar a sua vida. Filhos não estavam nos seus planos, mas a vida parecia contrariá-la sem qualquer remorso.
Entretanto na recepção tinha chegado Telma que vinha para a sua segunda ecografia. O bebé estava óptimo, assim mostravam os resultados. Ela sentia-se bem apesar de sentir a ausência do seu companheiro nestes momentos. O que sentia mais e que lhe trazia alguma insatisfação foi ter percebido que ficar grávida significou estar sozinha. Ela que tanto ambicionara ser mãe e ter uma família. A reacção do seu companheiro ao processo de gravidez apanhou-a totalmente de surpresa e ao contrário das suas expectativas, a solidão consigo própria tornou-se uma contrariedade que ainda não conseguia entender, permitindo instalar-se nela em alguns momentos uma tristeza mesmo muito profunda.
Trazer um filho ao planeta é um processo que a maior parte de nós não tem consciência do que envolve, da sua amplitude e da responsabilidade que acarreta. É normalmente encarado como uma função feminina da qual o elemento masculino se afasta. Tal como um agricultor sabe que uma semente para germinar, crescer, criar rama, brotar flores e gerar frutos necessita de um ambiente adequado para que isso aconteça, um casal deve ter a consciência e a responsabilidade de criar o ambiente adequado para que o seu filho se desenvolva. Como vimos anteriormente o processo inicia-se pelo menos uns seis meses antes, mas o filme a sério começa a ser rodado quando o espermatozóide fecunda o óvulo. A gestação e o crescimento de um ser humano precisa de uma envolvente de amor, essa é a condição para que as condições genéticas herdadas dos pais possam harmonizar-se e gerar um ser de corpo e mente equilibrados.
Podem-se distinguir 3 fases – a celular, a embrionária e a fetal.
A fase celular inicia-se exactamente quando o espermatozóide fecunda o óvulo e é uma fase essencial do processo, durando entre 4 a 5 dias. Este tempo é de extrema importância, pois o ambiente existente afecta directamente o processo, sem quaisquer barreiras. Um relacionamento sem amor, ou a existência de conflito, bem como o medo e a ansiedade constantes moldam as células resultantes.
A fase embrionária inicia-se logo a seguir e irá até à 8ªsemana.
Esta é constituída por 4 sub-fases. A primeira é a viabilidade pré-natal que se prolonga até à 2ªsemana. Durante esse tempo definir-se-á se o novo ser tem ou não as condições necessárias para continuar o processo. O ambiente físico-emocional da futura mãe nos cinco primeiros dias da gravidez e até ao final desta fase influenciam e muito a viabilidade da gravidez continuar ou abortar.
Da 2ª à 6ª semana dá-se a activação do sistema nervoso e do coração, podemos assim ver uma ligação muito importante entre estes dois elementos do nosso corpo, que se irá reflectir na vida adulta.
Na 3ªSub-fase que ocorre até à 7ªsemana dá-se a formação da omoplata, e tem o significado do construir as estruturas para as asas e assim o ser ter a possibilidade de voar ou não. É nesta fase que se podem detectar as maiores malformações e pela segunda vez se coloca a viabilidade em causa. Quando a avaliação que o próprio corpo da mãe faz é positiva o processo continua, se não o embrião não terá as condições estruturais para viver.
Entramos de seguida na 4ªSub-fase que é o final do período embrionário, iniciando-se a activação dos restantes órgãos e estruturas.
A fase fetal engloba 5 sub-fases. Na semana 9 finaliza-se o processo de activação das estruturas iniciado na semana anterior. Da semana 10 até à semana 12 formam-se os Rins, e da semana 12 até à 15ª o feto está finalmente formado. A partir desta data o ser é envolvido na consolidação das estruturas e essencialmente na maturação de todo o sistema nervoso, em especial na formação do cérebro. Esta fase dura até à 36ª semana começando a partir dessa data e até ao final a preparação para o parto.
Todo este processo acarreta grandes mudanças físicas e emocionais na mãe. A codificação do novo ser é feito com base nos elementos genéticos iniciais, no ambiente que ele vai experienciando, nas emoções que a mãe vai vivendo ao longo de todo o tempo. Consegue identificar-se 3 etapas extremamente críticas e que influenciam bastante todo o desenvolvimento, do acto da concepção até aos 5 primeiros dias da gravidez, e o tempo a partir daí até à 7ªsemana quando se dá a formação da omoplata, dando-se assim a autorização para que o processo continue, e finalmente a ultima etapa que vai até à semana 36 que é a maturação de todo o sistema nervoso. Acompanhar emocionalmente a futura mãe e facilitar o movimento que o seu corpo vai precisar é aquilo que terapeuticamente é necessário. O pai deve igualmente estar disponível para aprender e ajudar todo o processo, crescer emocionalmente, perceber a família, balancear e entender o desapego equilibrando-os no conceito familiar. Assim a gravidez é do casal, tanto a mulher como o homem engravidam, apenas fisicamente é visível num dos lados do relacionamento, mas emocionalmente estão os dois grávidos.
Existem exames médicos e consultas que são desgastantes tanto para a mãe como para o feto, e que até poderá ser discutível a sua necessidade, mas o suporte adequado do pai é essencial para trazer o ambiente propicio. A gestação envolve toda a família e não só o lado feminino, é claro que esse será aquele que será mais solicitado, mas precisa muito do apoio dos restantes elementos familiares.
A função de um terapeuta, que se dedica ao acompanhamento de futuras mães, é facilitar a harmonização do corpo da mulher através da reflexologia, acompanhar e suportar todo o movimento sacro-craniano da estrutura, permitindo uma maior flexibilização da ligação sacroilíaca, tão importante na hora do parto, trabalhar as emoções que vão existindo ao longo de todo o processo e ajudar o pai quando necessário a harmonizar as suas emoções integrando-o no processo. Todo este trabalho pode fazer toda a diferença na hora do parto e na recuperação pós-parto, para a vida do bebé pré e pós parto, bem como, da calma e serenidade que podem acompanhar a vida familiar no geral. Uma boa gestação, harmoniosa e equilibrada é essencial para um ser equilibrado, saudável e para uma família realmente conectada entre si, transpirando amor entre os seus elementos.
Resumo das várias fases da gravidez
– Fase celular – os 5 dias iniciais
– Fase embrionária – até á 8 semana
Subfase 1 – até ás 2 semanas viabilidade pré-natal
Subfase 2 – até ás 6 semanas activação SNervoso e coração
Subfase 3 – até ás 7 semanas formação da omoplata
Subfase 4 – até ás 8 semanas final do período embrionário e inicio da activação dos restantes órgãos e estruturas
– Fase fetal – a partir da 9 semana até ao parto
Subfase 1 – inicio das restantes estruturas – 9ª semana
Subfase 2 – Rins – 10ª até 12ª semana
Subfase 3 – da 12ª à 15ª semanas – feto completo
Subfase 4 – da 20ª à 36ª semana – o cérebro
Subfase 5 – até à 38ªsemana – preparação para o parto