“Muitos de nós estamos a viver uma vida muito estreita, temos vendas autoinfligidas. Alarga a tua visão, alarga a tua mente, alarga a tua vida.” – Marco Aurélio
Esta frase de Marco Aurélio é intemporal, porque nos remete para a forma como nos auto-limitamos apenas por vivermos de acordo com crenças e limitações que, muitas das vezes, nem sabemos a sua origem.
De alguma forma todos nós, ao longo da vida, já nos deparámos com situações que nos incomodam e magoam sem sabermos exatamente a razão. Por vezes, até sentimos medo num cenário que nos é totalmente novo e não conseguimos entender de onde vem essa emoção.
A verdade é que o ambiente onde nascemos e crescemos condiciona profundamente a forma como percecionamos a realidade, levando-nos a desenvolver certos bloqueios limitadores e a influenciar o comportamento que temos perante o mundo.
Para melhor compreender como é que isto acontece, analisemos duas experiências, realizadas com animais:
- Os neurocientistas David Hubel e Torsten Wiesel receberam o Prémio Nobel em 1981 pelo seu trabalho sobre o sistema visual durante as décadas de 1960 e 1970.
Numa das suas experiências, dividiram um conjunto de gatos bebés em dois grupos, o grupo horizontal e o grupo vertical. O grupo vertical foi criado num mundo inteiramente constituído por linhas verticais: o papel de parede dentro das gaiolas era constituído por riscas pretas e brancas que iam do chão ao teto, e as pessoas que os manuseavam e alimentavam usavam cores sólidas ou também riscas verticais. Como resultado, estes gatos não viam nada para além de linhas verticais durante as primeiras semanas das suas vidas. Entretanto, outros gatos foram criados em gaiolas forradas e manuseadas por pessoas que usavam exclusivamente riscas horizontais, e este grupo nunca viu linhas verticais.
Os resultados foram surpreendentes. Os gatos criados num ambiente eram cegos – literalmente cegos – para quaisquer linhas que corressem para o “outro” lado. Os gatos criados num mundo horizontal, por exemplo, conseguiam ver muito bem os assentos das cadeiras e saltavam para cima delas para dormir a sesta. Mas não conseguiam ver as pernas da cadeira e batiam nelas constantemente. Os gatos do mundo vertical tinham o problema oposto. Eles contornavam as pernas das cadeiras como campeões, mas nunca conseguiam encontrar um lugar confortável para dormir a sesta.
Privados de informação vertical, os gatinhos horizontais só conseguiam percecionar linhas horizontais e vice-versa. Quando os seus cérebros dedicavam a perceção a um paradigma, negligenciavam o outro. A restrição da informação visual refletia a forma como percecionavam o mundo físico.
2. A segunda experiência foi realizada pelo etólogo alemão Eberhard Curio (1976) com 2 grupos de melros. Cada grupo foi colocado numa gaiola em separado de modo que se vissem e ouvissem mutuamente. Para além da vista para a outra gaiola, um dos grupos tinha também vista para uma águia empalhada, um predador que lhes é familiar e o outro para uma simples garrafa de leite.
No início da experiência, os pássaros que conseguiam ver a águia ficaram muito agitados e os que viam a garrafa de leite permaneceram calmos. No entanto, com o passar do tempo, os melros que só conseguiam observar a garrafa de leite começaram também a ficar inquietos, tal como o outro grupo.
Depois disto, a águia foi retirada da experiência e ambos os grupos passaram a ver apenas a garrafa de leite. O grupo que inicialmente só via a águia manteve-se calmo e o que sempre viu a garrafa de leite continuava agitado. Esta experiência foi mantida até os pássaros terem filhos e os seus filhos estarem na presença da garrafa do leite. Aqui percebeu-se que tanto os pais como os filhos ficavam agitados na presença da garrafa.
Após o nascimento dos filhos, a experiência parou e deixaram que nascessem os netos, separando-os e colocando-os, depois, sozinhos na gaiola, sem que nunca vissem a garrafa de leite. Assim que os netos foram postos na situação em que conseguiam ver a garrafa de leite, ficaram imediatamente inquietos.
Estas experiências são um ótimo reflexo do modo como os seres vivos funcionam, incluindo os humanos: quando crescemos num determinado ambiente, adquirimos informações inconscientemente, desenvolvemos determinadas crenças restritivas e não somos capazes de percecionar a realidade como ela é, apenas como acreditamos que ela seja.
Exemplificando, uma criança que nasça e cresça numa casa repleta de pessoas que sentem medo, tornar-se-á num adulto que vive constantemente com essa emoção. Ou seja, aquilo a que somos expostos no início da nossa vida condiciona profundamente a forma como nos vamos comportar em adultos e a nossa atitude mental perante o mundo.
É a partir destas crenças limitadoras e daquilo que fazemos ou não para as mudar que surge o conceito de Mente Pobre e Mente Rica. De modo simplificado, a pessoa que tem uma Mente Pobre é alguém que não é capaz de percecionar a abrangência global do que está a acontecer na realidade que tem de enfrentar, percecionando uma realidade muito limitante. Esta pessoa não é capaz de ver a abundância que o mundo tem para oferecer. Em oposição, temos as pessoas que têm uma Mente Rica, com uma visão abrangente da realidade e que encaram os desafios da vida com otimismo e aceitam toda a abundância que existe, gerando ainda mais abundância.
A grande diferença entre as duas encontra-se na perceção e na postura que têm na vida:
- A Mente Pobre só vê problemas, a Mente Rica vê soluções
Independentemente do que lhe aconteça, a Mente Pobre apenas consegue focar-se nos problemas, não pensando, sequer, na possibilidade de uma solução. Contrariamente, a Mente Rica não vê uma situação como um problema, foca-se sempre na solução.
2. A Mente Pobre vive em conflito, a Mente Rica vive em consenso
A Mente Pobre vive numa realidade de “ter razão” e onde só há vencedores e vencidos, julgamentos e julgados. A Mente Rica centra-se em encontrar um consenso e em criar uma realidade em que todas as partes ganham, onde existem apenas vencedores.
3. A Mente Pobre evita relacionamentos, a Mente Rica sabe que os relacionamentos são a maior fonte de evolução
A pessoa com Mente Pobre costuma afirmar que prefere animais a pessoas e evita quaisquer relacionamentos que não seja obrigada a ter. A Mente Rica considera os relacionamentos como a principal matriz de aprendizagem e evolução, procurando mergulhar e trabalhar neles sempre que possível.
4. Para a Mente Pobre tudo é difícil, para a Mente Rica temos tudo o que precisamos
Para a Mente Pobre a vida é cheia de obstáculos intransponíveis e é sempre uma vítima das circunstâncias. A Mente Rica sabe que tem tudo aquilo que precisa, e aproveita o melhor de todas as circunstâncias, realiza as suas aprendizagens e a vida flui naturalmente, até nos momentos difíceis.
5. A Mente Pobre não consegue ter sucesso porque se foca nos resultados, a Mente Rica tem sucesso porque se foca no processo
A Mente Pobre vive focada nos resultados do que pretende alcançar, o que colide com os seus pensamentos típicos de que não é capaz nem vai ter sucesso. Por outro lado, a Mente Rica foca-se no processo e naquilo que pode fazer para ser melhor durante esse processo, sabendo que desta forma os resultados irão aparecer, mais cedo ou mais tarde.
6. A Mente Pobre acha que o mundo está cheio de obstáculos intransponíveis, a Mente Rica aceita os desafios da vida porque nos ajudam a ficar cada vez melhores
A pessoa com Mente Pobre encara os desafios que lhe surgem como obstáculos impossíveis de ultrapassar e resigna-se a eles. A Mente Rica enfrenta os obstáculos de frente e vê-os como oportunidades de desenvolvimento pessoal e de maturidade espiritual.
A Mente Pobre só existe quando nos mantemos nesse estado e não criamos a possibilidade de transformar a nossa mente numa Mente Rica. Todos podemos fazer essa transição, e a mudança depende apenas da nossa decisão.
Contudo, ficam no ar questões importantes quando se está perante uma Mente Pobre: Como ver, percecionar ou criar algo que nem sabemos que existe? Como é que alguém que não tem consciência da realidade, faz para ganhar essa consciência?
Só existe uma forma para se ganhar consciência de que a perceção da realidade é limitada: passarmos por situações em que o desconforto se torna insustentável e só aí fica disponível o desejo de pôr fim ao sofrimento. A dor e o sofrimento, são na maioria dos casos, um catalisador de transformação, e a partir do momento em que isso acontece começamos a questionar-nos e temos também a possibilidade de pedir ajuda e quando o fazemos, podemos receber consciência.
Uma vez que sabemos isto, não é de facto necessário passarmos por situações limite para mudar, precisamos apenas de estar atentos a nós próprios, percecionar as nossas limitações, estando disponíveis para aprender e para mudar.
Um dos motivos para nos mantermos sempre no mesmo registo sem conseguir percecionar uma realidade mais alargada é porque quando existem desafios ou situações em que nos magoamos, rejeitamos continuamente estas experiências. A forma de sair disto, é parar de rejeitar situações desconfortáveis e adotar uma postura de aprendermos continuamente com aquilo que nos acontece para conseguirmos ver a realidade de outra forma e evoluirmos.
Por exemplo, alguém que vive em conflito, só quando o conflito a magoar mesmo a sério, terá a possibilidade de querer procurar outras formas de viver, ficando nesse momento disponível para aprender e conhecer novas formas de viver.
Uma vez que passemos a ter esta consciência de que existe algo que nos gera desconforto e nos magoa, para expandirmos a nossa perceção devemos:
- Observar quem consegue fazer diferente e perceber que características têm e como se comportam perante as mesmas situações ou semelhantes;
- Modelar, imaginando-nos a fazer o mesmo que eles;
- Estar disponível para aprender – trabalhar diariamente connosco próprios e pedir para sermos ensinados e guiados nesse processo de aprendizagem e de amor.
- Agradecer aquilo que queremos e começarmos a sentir aquilo que desejamos como se já estivesse a acontecer.
O mundo é sempre abundante, o tipo de abundância em que vivemos é uma escolha da nossa responsabilidade.
Muda o teu paradigma para mudar a forma como vês o teu mundo.