Ohlimi pertence a uma tribo do norte da África do Sul que habita nos limiares do deserto do Kalahari. Um dia, enquanto dormia uma pequena sesta à sombra de uma árvore, um som agudo e estridente que vinha do seu lado esquerdo acorda-o. Ainda um pouco assustado, pois nunca tinha ouvido um som assim, levantou-se e deslocou-se na direcção de onde lhe parecia vir o som. Conforme se aproxima da fonte do ruído, o som fica mais intenso, mas também mais definido, de tal forma que, estranhamente, lhe pareciam pessoas a falar uma língua que ele não entendia. Após o susto inicial, a sua mente começou a clarear e, depois de alguma busca, encontrou uma caixa no meio dos arbustos.

Esta era uma caixa estranha. Era toda preta e tinha uns botões cinza em cima e uma espécie de pau metálico que vinha de dentro da caixa. Resolveu aventurar-se e experimentou tocar ao de leve no objecto. Ohlimi estava na presença de um rádio, algo que nunca tinha visto, e naquele momento questionava-se de onde tinha vindo aquilo.

Um misto de medo e curiosidade apoderou-se dele, mas o querer saber o que era aquela caixa fê-lo vencer todos os bloqueios. Alguém falava de dentro da caixa e isso era muito estranho para ele. Como é que o homem que estava a falar tinha entrado naquela caixa?

Procurou algo que justificasse a entrada de uma pessoa e nada! Não havia qualquer possibilidade de alguém ter entrado dentro daquela caixa. Olhou à sua volta para ter a certeza que estava sozinho. A confirmação foi muito rápida, pois não havia muitos sítios onde alguém se pudesse esconder. De facto não havia ninguém nas redondezas.

Decidiu investigar um pouco o objecto. Ainda a medo tocou no sintonizador de frequências e a voz parou de falar, rodou no sentido contrário e a voz voltou a ouvir-se. Experimenta várias vezes o mesmo movimento e acontece sempre o mesmo: a voz desaparece ficando um barulho indefinido e quando retorna à posição inicial a voz aparece novamente.

Passado algum tempo aventura-se um pouco mais e ao continuar a rodar o botão encontra agora outra voz que falava num tom similar, mas agora era a voz de uma mulher. Durante uns minutos foi experimentando as capacidades desse botão e as diversas estações de rádio que eram sintonizadas a partir dali. Uma pergunta ecoava cada vez com mais intensidade na sua cabeça e para a qual não obtinha qualquer resposta: “Como é que todas aquelas pessoas tinham ido parar dentro daquela caixa?”

Decide experimentar o botão vermelho onde estava escrito “Power”, e logo após o ter pressionado a voz calou-se. Afinal ele tinha o poder para calar aquelas pessoas, se ele assim o decidisse! Surpreendido com o poder que tinha, resolve pegar no rádio e levá-lo para a sua tribo e mostrar aos outros a sua descoberta.

Explicar aos outros afinal foi mais fácil do que poderia imaginar, pois tinha aquele objecto consigo e podia imediatamente exemplificar o que descrevia. Mesmo assim não foi possível evitar os olhares assustados e surpreendidos dos outros elementos da tribo. Se ele não tivesse trazido o rádio consigo, nunca acreditariam no que estava a dizer e possivelmente seria sacrificado por estar a mentir.

O chefe da tribo determina, unilateralmente, que aquela caixa era de importância maior para a comunidade. Decide ficar com a caixa para ele e para que todos estivessem conscientes do seu poder, trazia-a sempre consigo a fazer barulho.

Será que um dia vão conseguir perceber que, apesar do facto de repetirem continuamente as mesmas experiências e obterem sempre os mesmos resultados, isso não explica o modo como a caixa funciona?

Irão algum dia entender que aquela caixa não detém qualquer poder? Ou que não têm qualquer controlo sobre aquilo que ela emite? Ou que os sons feitos pela caixa são transmitidos a vários milhares de quilómetros do local onde se encontram e que vão continuar a existir independentemente de desligarem ou não a caixa?