– Mestre, estou irritado!
– O que foi que se passou? Espero que não tenha sido comigo!
– A verdade é que foi mesmo contigo.
– Comigo?
– Sim. Contigo.
– Mas porquê? O que foi que eu fiz ou disse?
– Essa é que é a questão. Foi o que não disseste. Eu fiz-te uma série de perguntas, e tu não respondeste. Esquivaste-te, dizendo que já era tarde e que tinhas de ir embora!
– E que perguntas foram essas? Não me vais dizer que foi aquela história da alma!
– Sim, foi mesmo isso. As questões eram: qual a razão para não termos toda a informação desde o início? O que somos? Qual a nossa missão aqui? Qual o caminho que devo percorrer? Porque é que tudo isso não está claro desde o primeiro momento? Porque é que acabamos por morrer, sem termos a mínima ideia do que andamos a fazer? Em suma, qual a razão da minha existência?
A vida assim não consegue fazer sentido.
Para mim, teria bem mais sentido se eu soubesse logo qual o meu caminho. Esta dualidade é de tal modo, que as dúvidas e os receios me bloqueiam nas minhas decisões, pois nunca sei se é o caminho correcto…!
– Sabes, a primeira coisa a aceitar é que não há certos ou errados. Existem decisões a tomar, o assumir a responsabilidade, sem culpa e sem expectativas.
– Sim, sim, sobre isso já falámos antes, peço-te que não fujas à questão.
– Não estou a fugir à questão. Eu tento sempre responder a todas as questões por mais incómodas que algumas sejam, e quando não tenho resposta ou não sei nada sobre um determinado tema, digo-te logo. Vamos lá então responder às tuas questões.
Imagina alguém que decidisse viver neste mundo, com os olhos e os ouvidos tapados e, para além disso, vestisse um fato que lhe limitasse significativamente o tacto, e logo que o fato fosse vestido, toda a memória passada seria apagada e estaria a começar do zero. Qual seria a razão para alguém fazer isso?
– Não sei. Não consigo entender a razão para alguém fazer uma coisa dessas!
– Pensa um pouco. Não o julgues e pensa na razão para alguém decidir fazê-lo.
– Bom, talvez para percepcionar este mundo de forma diferente, mas só consigo imaginar, se fosse alguém que já tivesse tudo e estivesse deveras aborrecido com a vida que levava, para entrar nesses radicalismos!
– Consegues pensar em mais alguma razão?
– Ligar-se ao seu interior desligando-se do exterior, percepcionar as vozes internas, poderiam ser outras razões para tal. “Experienciar” aquilo que não é, para poder entender aquilo que é, poderia ser outra possibilidade.
– Sim, tudo isso seriam possibilidades. Consegues imaginar mais alguma?
– Não, neste momento não estou a conseguir. Que mais é que poderia ser?
– Já pensaste na energia resultante da alegria, quando tivessem passado, por exemplo dois anos, e ele tirasse a venda dos olhos, os tampões dos ouvidos e despisse aquele fato?
– Bem, não tinha pensado nisso assim…
– Mas tudo o que disseste também está correcto. Todas as possibilidades que referiste potenciam ainda mais a energia libertada pela transformação. Ela seria imensa e eterna.
O universo precisa desse tipo de energia.
Se já soubesses o caminho, essa transformação não aconteceria, nem saberias quem efectivamente és, nem terias possibilidade de te conheceres na tua essência. Assumirias um facto de raiz sem saberes o que realmente significava, com a consequência da libertação energética ser diminuta.
– Mas Mestre, eu julgava que me ias dizer que era para eu aprender!
– Aprenderes o quê? A tua alma já sabe tudo. O que precisas é de “experienciar” o que não és, tal como referiste antes, para poderes libertar essa enorme energia, que é retornares àquilo que és. É como se passasses do Saber Saber, para o Saber Fazer, para poderes Saber Ser.
Mas acima de tudo, aprenderes a amar-te tal como és, independentemente da forma como decidiste manifestar-te nesta plataforma energética
– Então, eu ando cá, neste mundo, para “experienciar” o que não sou, para depois morrer e através dessa transformação “energizar” o universo?!
– Sim, mas não precisas de morrer, podes fazê-lo sem abandonares o veículo corpóreo, ainda em vida, e viveres daí para a frente, sendo quem tu és.
– Como é que eu faço isso?
– Existe um processo para tal. Se precisares de ajuda para o fazer, posso ajudar-te. Na realidade, basta pedires, para que isso aconteça.
– Assim tão simples?
– Sim.
– Fala-me mais sobre isso, começo a ficar interessado!
– Trata-se do processo de ascensão, pedia-te para não ficares irritado comigo mas vai ficar para outra altura. Pensa primeiro no assunto e se for mesmo isso que queres, podes depois vir falar comigo.