“O perdão é a paz do céu reflectida no lago… e é tudo o que existe.”
Esta frase veio de dentro de mim durante um processo a que chamamos “Viagem”.
Nesta “Viagem” apenas é utilizada a Energia Biogravitacional potenciada pela união da vontade de crescer e de evoluir de um grupo de pessoas, que desejam acima de tudo a cura, para acederem e aprenderem a contactar níveis mais elevados da sua consciência.
Para que este texto seja interpretado de forma clara e sem dúvidas, esclareço que não existe o uso de qualquer substância química, seja dos anos 60 ou das mais modernas, como o ayahuasca, com direito aos efeitos secundários inerentes. Somos só nós, totalmente despidos e nus de quaisquer crenças e bloqueios, a viajar pelo nosso mundo, com a ajuda da Energia Biogravitacional e em que o único efeito secundário que pode acontecer é curarmo-nos e elevarmos o nosso nível de consciência.
Quando durante o processo essa frase surgiu, seguiu-se uma onda de calor que entrou no meu corpo e percorreu todas as minhas células. Na altura não entendi o que aconteceu. Sabia apenas que queria recordar um episódio da minha vida em que tivesse sentido perdão por algo ou alguém, e não conseguia. E surgiu esta imagem da luz reflectida num lago e uma voz que me dizia que o perdão era a paz do céu reflectida nesse lago. O calor que senti, sei agora que era eu a sentir essa paz, mas na altura não consegui entender nem a abrangência nem o sentido do que estava a experienciar. Apenas sabia que era bom e aconchegante, sem alcançar realmente o significado daquelas ondas de calor que me faziam sentir tão bem e me faziam querer ficar eternamente naquele estado delicioso de transe.
O que aconteceu nas semanas seguintes foi um desastre total e completo. Nenhuma paz, garanto! Pelo contrário. Parecia que todos os conflitos da minha vida tinham surgido de novo para me atormentar. Aliás, estava capaz até de dizer que todos os conflitos do mundo estavam vivos em mim. O que não deixa de ser real, pois esta experiência deu-me o entendimento de que os conflitos no mundo são a expressão de todos os conflitos internos que existem. Imaginem se cada pessoa tiver no mínimo 2 conflitos internos, multipliquem isso por toda a população mundial e veremos que o conflito israelo-árabe (entre muitos outros) é de facto pacífico tendo em conta a proporção de conflito em que cada um de nós vive internamente.
Sabendo eu como funciona a linguagem da mente, a minha linguagem e a de todo o universo, fiz todas as perguntas que poderia fazer, e exasperei pelas respostas, mesmo sabendo que muitas delas só as encontrarei depois da morte. “Qual a razão para precisar disto? Qual a aprendizagem? Qual a solução?” Nada. A voz do lago tinha ficado muda para os meus sentidos, que cada vez ficavam mais cegos, surdos e mudos com a irritação que crescia cá dentro. Mas, espantosamente o exterior responde-nos com uma rapidez impressionante e não era só cá dentro que essa irritação crescia. Há minha volta os conflitos rebentavam como borbulhas no rosto de um adolescente. E eu voltava às minhas questões. Consciente que isso expressava o conflito interno… Mas que raio de conflito interno é este que nem consciência consigo ter dele?
E eis que, num momento em que tive a oportunidade única (pelo menos na geração da tecnologia) de apanhar uma seca, decidi experimentar aquilo que a voz me tinha mostrado. Fechei os olhos e quis profundamente sentir a paz reflectida no lago… Foi ainda pior. Todo o meu corpo reagiu. Não senti calor. Sentia-me queimar. Como se uma batalha se estivesse a travar. E na minha cabeça passaram imagens e imagens de pessoas e situações e eu recitava o meu mantra das últimas semanas “Eu perdoo-me. Eu perdoo-me Eu perdoo-me” até à exaustão.
Até que tudo ficou calmo e não senti mais nada. E aí começaram a chover as respostas. Não eram vozes, por isso não precisam de me receitar medicação. Era mais aquele momento em que algo estava mesmo à nossa frente e nunca antes o tínhamos visto e de repente surge mesmo à nossa frente.
Para ilustrar o que me aconteceu vou falar de um filme, que não acho necessariamente engraçado na generalidade, mas que tem uma cena muito, muito interessante. O filme é o “Evan, O todo poderoso”. Uma esposa que tem um marido ausente, rezava a Deus para ter uma família unida. E eis que o marido fica “maluco” pois Deus dá-lhe a tarefa de construir uma arca, tal como a do Noé. Irritada com a loucura do marido sai de casa com os filhos. Mais tarde, encontra-se num restaurante onde Deus, disfarçado de empregado de mesa, aproveita para meter conversa e pergunta-lhe, “Se alguém rezar a Deus a pedir paciência, achas que lhe vai dar paciência ou situações que a ensinem a ser paciente? E se alguém pede a Deus uma família unida, achas que lhe vai dar uma família unida ou situações para manter a família unida?”
E basicamente é isto. Toda a minha vida, e particularmente nos últimos meses exasperei por existirem tantos conflitos na minha vida, à minha volta. É de tal facto real que até o meu percurso académico inicial foi estudar diplomacia. Licenciei-me em Relações Internacionais e continuei sem fazer a mínima ideia sobre como acabar com um conflito, nem mesmo o mais básico de todos: o meu.
Hoje e só agora neste preciso momento em que escrevo, é que vi o que era óbvio. Como poderia eu algum dia sentir a paz reflectida no lago sem estar perante o conflito? E o que era o conflito? Uma oportunidade de aprender. Aprender a sentir essa paz. E quanto mais eu rejeitava essa aprendizagem, maior o conflito se tornava. E mais irritada e triste eu ficava comigo e com a vida.
A viagem para conseguirmos aprender algo pode ser longa, mas se continuarmos continuamente a tentar aprender e a experimentar ver a vida por um prisma diferente daquele que nos deram ou diferente daquele que queremos ver, um dia vamos lá chegar e no seu percurso vamos ter sempre tudo aquilo que precisamos.
Hoje sei porque nasci em conflito e vivi em conflito durante mais de 30 anos. Para aprender a sentir a paz reflectida no lago.
Existe uma gratidão dentro de mim maior do que consigo expressar em palavras, por todas as situações na minha vida que me trouxeram a este lugar onde se sente “a paz do céu reflectida no lago”.