Cansaço ou Má Energia?
No passado em Portugal, quando alguém se sentia extremamente cansado ou debilitado, dizia-se que estava sob o efeito do “quebranto”. Esta ideia, enraizada em tradições populares, associava o mal-estar a um “mau-olhado” ou ao desejo de mal por parte de outra pessoa. Era uma forma de explicar fenómenos de cansaço ou estagnação que não tinham uma causa visível ou compreendida. Hoje, embora a ciência tenha esclarecido muitos destes processos, o hábito de atribuir conceitos de “más energias” a situações adversas persiste.
Mas, afinal, o que é energia?
O que é energia?
A energia é a capacidade de realizar trabalho ou provocar mudanças. Pode manifestar-se como energia cinética, associada ao movimento, ou energia potencial, acumulada ou em repouso. Apesar de não ser visível, tal como a gravidade, a energia é real, mensurável e governada por leis naturais. É algo que pode ser observado através dos seus efeitos – seja o movimento de um objeto, o calor gerado ou o fluxo de sangue no corpo humano.
Não é, portanto, um conceito espiritual ou abstrato. Tal como a gravidade mantém os planetas em órbita sem que a possamos ver, a energia manifesta-se em processos vitais, mas pode ser medida, analisada e compreendida pela ciência.
Cansaço e o mito das más energias
A ideia de que “más energias” são responsáveis por situações indesejadas é mais uma metáfora do que uma realidade. O cansaço, por exemplo, é frequentemente resultado de um desequilíbrio nos fluxos de energia do corpo, como a circulação sanguínea, o movimento emocional ou a falta de exposição à luz e atividade. Não é causado por uma energia “negativa”, mas sim pela falta de transformação de energia potencial em cinética.
Por vezes, estados de estagnação são interpretados como “más energias” devido à associação a situações de desconforto ou emoções negativas. Contudo, isso não significa que a energia tenha um significado moral ou místico. A energia não carrega intenções; é apenas uma propriedade física que pode ser usada ou acumulada.
O movimento como fonte de energia
Assim como no universo o movimento gera energia – do percurso de um planeta em torno do Sol ao fluxo de líquidos no corpo humano – também no ser humano o equilíbrio entre energia potencial e cinética é essencial para a vitalidade. Estagnação não é sinónimo de “mau”, mas sim de falta de movimento, e o restabelecimento do fluxo energético pode ser alcançado através de ações simples: movimento físico, expressão emocional, interação com o ambiente ou simplesmente descanso e regeneração.
A energia na saúde humana
Compreender a energia como parte integrante da saúde é essencial para desmistificar conceitos místicos ou errados. A energia é ciência, tal como a gravidade. Não a vemos, mas os seus efeitos são claros e mensuráveis. Excluir a energia do entendimento médico seria ignorar uma parte fundamental do funcionamento humano.
Não há más energias, mas sim desequilíbrios que podem ser resolvidos promovendo o movimento e a transformação de energia no corpo. Quando reconhecemos o papel da energia na medicina e no bem-estar, percebemos que cuidar de nós mesmos significa garantir que a energia flua em equilíbrio, sem bloqueios.
Conclusão
O “quebranto” e outras interpretações culturais ou espirituais da energia são, na verdade, formas de tentar explicar algo muito simples: a energia, nas suas formas potencial e cinética, é essencial para a vida. Assim como a gravidade governa o universo sem ser visível, a energia é uma força invisível, mas mensurável e vital. Desmistificar esses conceitos permite-nos olhar para a saúde de forma mais clara e baseada na realidade. Não há energias boas ou más – há apenas energia, movimento e transformação.